Germinar na Bio Brazil Fair

terça-feira, 16 de março de 2010

Dengue: vela ou “sapo” de andiroba


Por Luiz Roberto Barbosa Morais

A produção de óleo de andiroba é artesanal. Nas bacias de alumínio existem os chamados “sapos” utilizados na queima para espantar os insetos na floresta.
Na floresta amazônica é época de chuva e a umidade relativa do ar chega a 98% (Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC, Florianópolis-SC, julho/2006). É neste período que, especificamente na ilha do Marajó, os rios e lagos enchem os campos, ficam verdes, os frutos amadurecem e aparece uma enxurrada de mosquitos. São maruins (Culicoides paraensis), carapanãs (Aedes aegypti, Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi Root, 1926, Anopheles (Nyssorhynchus) albitarsis LynchArribalzaga, 1878, Anopheles (Nyssorhynchus) aquasalis Curry, 1932, Anopheles (Kerteszia) cruzi Dyar & Kanab, 1908, Anopheles (Kerteszia) bellator Dyar & Knab, 1908), entre outros insetos.
Em algumas localidades, mesmo durante o dia, temos que ficar embaixo de mosqueteiros, (tipo de cobertura de filó que colocamos nas redes para proteger-nos dos insetos e evitarmos as picadas dos mesmos).
Para diminuir o ataque destes insetos, os ribeirinhos queimam quase tudo – de esterco de búfalo a serragem. Porém o que mais diminui esta incidência de insetos é a queima do chamado “sapo” de andiroba que, embora produza uma fumaça de odor desagradável e forte devido à grande quantidade de óleo com ranço que este material possui, além da grande quantidade de dejetos de microorganismos, é a melhor solução que o homem da floresta tem ao alcance da mão.
Agora, também é a época de coletar frutos das andirobeiras e preparar para extrair o óleo de andiroba. Este óleo, extraído de forma artesanal, gera o resíduo que é queimado com a finalidade de espantar os insetos.
A indústria de óleos da Amazônia, Brasmazon, criada por mim e mais alguns sócios, em 1995, ao produzir óleo de andiroba em escala industrial, gerou um produto que passou a ser aproveitado na fabricação de vela de andiroba (tenho a patente, através do processo PI 9706610).
Estas velas chegaram a ser produzidas em larga escala pelo LAFEP, com as bênçãos do então ministro da Saúde José Serra para ser distribuído com a finalidade de auxiliar no combate à dengue – projeto este abandonado não se sabe ao certo por qual motivo (ver a revista IstoÉ, 30/01/2002*).
O doutor Lauro Barata, um dos maiores conhecedores de ativos da floresta e professor da Unicamp, publicou em 2002, um trabalho que isolava os ativos deste produto da andiroba, em “Estudo do resíduo industrial da extração do óleo de andiroba”.**, referendando, desta forma, o conhecimento popular transferido de geração em geração para caboclos como eu e muitos outros mais. Pergunto como caboclo e como químico: por que uma solução barata e de fácil acesso não esta sendo utilizada na prevenção da doença neste verão e nos verões passados?
Falta de informação? Só pode ser.
Hoje o quilograma do pó de andiroba para a vela custa R$ 4,00 para o consumidor final, podendo fazer até cinco kg de velas em casa mesmo – basta derreter a parafina e misturar ao pó de andiroba (20% é o suficiente), mexer por 15 minutos, filtrar em saco de coar café, colocar na fôrma de sua preferência ou em tubos de PVC com um pavio grosso que pode ser feito até mesmo de barbante ou pavios para velas “7 dias-7 noites” vendidos em casas de produtos artesanais (tome cuidado com cortinas e materiais inflamáveis quando está acabando de queimar esta vela, pois forma uma chama grande). O que sobra no saco de coar café pode ser acumulado para queimar fora de casa em fogareiros ou até mesmo churrasqueiras, antes ou depois da festa para afastar insetos, forma uma grande quantidade de fumaça.
Além disso, ao utilizar um produto deste você estará ajudando a preservar as andirobeiras da Amazônia – uma árvore produz de 50 a 200 kg de sementes por ano. Se as sementes não são compradas ao preço de R$ 250,00 a tonelada, estas árvores correm o risco de serem sacrificadas pelos ribeirinhos pela sua legítima necessidade de subsistência. A compra de velas aumentaria a demanda de sementes.
A vela feita com o óleo não tem uma fagorepelencia tão boa quanto da vela feita com fase sólida.
Atualmente, o pó de andiroba é vendido às empresas de produtos orgânicos ou utilizado nas lavouras contra formigas e fungos, tendo uma aceitação atual muito boa. Porém, fica novamente a pergunta: por que não evitar despesas, sofrimento e até mesmo morte com auxilio de um produto como esse?

* http://64.233.163.132/search?q=cache:TOcoLXU6ovUJ:www.istoe.com.br/conteudo/14453_LUTA%2BEM%2BNOME%2BDA%2BVIDA+Isto%C3%89+%E2%80%9CA+luta+contra+a+dengue+tamb%C3%A9m+%C3%A9+travada+na+Fiocruz&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
Luta em nome da vida
A luta contra a dengue também é travada na Fiocruz. Far-Manguinhos desenvolveu uma vela feita com o bagaço da andiroba, planta amazônica que reduz entre 70% e 100% o apetite da fêmea do mosquito Aedes aegypti, responsável pela picada que transmite a doença. Far-Manguinhos licenciou dez laboratórios brasileiros para fabricar a vela, vendida entre R$ 2 e R$ 8. Mais um ponto para essa ilha de excelência”


** Adriano Martinez Basso, bolsista PIBIC/CNPq e o professor Dr. Lauro Euclides Soares Barata, orientador, Instituto de Química (IQ), Unicamp-SP.

Luiz Roberto Barbosa Morais nasceu em Belém (Pará), estudou engenharia e fez licenciatura em química. Pesquisa matéria-prima que tem potencial extrativista e pode ser aproveitada ou domesticada, com ênfase em matérias oleaginosas.

A Germinar revende as velas produzidas por www.curupiradaamazonia.com.br do autor da matéria (www.lojagerminar.com.br).
 
Prefeituras e governos interessados no combate à dengue:
- contato@curupiradaamazonia.com.br
- luizrobertomorais@superig.com.br